Conteúdo Saúde: As pessoas que perdem a memória e ficam desorientados com relação a tempo e espaço podem estar com Alzheimer?
Dra. Flavia: É importante saber que nem toda confusão ou desorientação é sinal de Doença de Alzheimer. Vários fatores podem causar o aparecimento súbito de uma confusão mental, tais como uso de alguns medicamentos (por exemplo: “calmantes”), bebida alcoólica, presença de infecções, problemas renais, doenças cardíacas, etc. Esse tipo de confusão que aparece de forma aguda (Delirium) é uma situação transitória, que pode desaparecer depois de alguns minutos, dias ou até alguns meses, desde que sua causa seja tratada (pex. uso de antibióticos em pacientes que ficaram confusos por causa de alguma infecção). Por outro lado, na Doença de Alzheimer, o paciente além de perder noção do ambiente ou do tempo (dia/mês/ano) em que se encontra, apresenta também perda progressiva da memória e dificuldades para realizar tarefas cotidianas, que tendem a piorar ao longo de anos, não sendo uma situação reversível.
Conteúdo Saúde: Como evoluem os sintomas do mal de Alzheimer?
Dra. Flavia: A Doença de Alzheimer é uma doença crônica que progride de forma lenta, com piora contínua da memória e das habilidades para realizar tarefas cotidianas. Em geral, a doença se manifesta durante 8 a 12 anos (embora essa duração possa variar bastante conforme cada caso).
Na fase inicial da Doença de Alzheimer (2 a 3 primeiros anos da doença) é muito comum a presença de:
- Esquecimento para fatos recentes, datas, compromissos ou nomes de pessoas.
- Esquecimento do local onde deixou algum objeto ou esquecimento da comida no fogo.
- Dificuldade para se localizar em alguns locais onde antigamente andava com facilidade.
- Falta de concentração.
- Tristeza, ansiedade, isolamento, crises de raiva ou agressividade.
Já o paciente na fase intermediária (2 a 10 anos) apresenta:
- Piora da memória (passando a esquecer também de informações mais antigas).
- Dificuldade para se comunicar, fazer contas, executar tarefas como usar telefone ou administrar suas finanças.
- Perda da capacidade crítica de perceber suas próprias limitações.
- Piora do comportamento, por exemplo, com agitação, idéia de que está sendo roubado ou sensação de que ver ou ouvir pessoas ou sons não existentes (alucinações).
Por fim, na fase avançada da doença (8 a 12 anos), o paciente se torna incapaz de reconhecer pessoas, diminui progressivamente sua fala e seus movimentos, conseqüentemente não conseguindo se levantar sozinho da cama e dependendo completamente de terceiros para seus cuidados básicos, como higiene ou alimentação.
Conteúdo Saúde: A partir de todos os estudos que foram realizados sobre a doença até os dias atuais, o que pode ser feito para prevenir a doença?
Dra. Flavia: Atualmente já se conhecem vários fatores capazes de reduzir o risco de desenvolver a Doença de Alzheimer, como por exemplo:
- Prevenção e tratamento de Hipertensão Arterial (“Pressão Alta”) e de Diabetes.
- Prática freqüente de atividade física.
- Participação em atividades de lazer e de socialização.
- Não fumar.
- Manter níveis baixos de colesterol.
- Exercícios para estimular memória.
- Ampliar seu conhecimento e aprendizado ao longo da vida (quanto maior a escolaridade, maiores são as “reservas” que pessoa possui em sua memória, diminuindo sua chance de apresentar Alzheimer)
Conteúdo Saúde: Que dicas seriam interessantes para as famílias que tem alguma pessoa sofrendo com o Alzheimer?
Dra. Flavia: A Doença de Alzheimer pode causar impacto na vida pessoal, financeira e emocional não só do paciente, mas de toda sua família. Portanto, é fundamental para o sucesso do tratamento que familiares e cuidadores tenham oportunidade de tirar suas dúvidas com profissionais de saúde e que recebam aconselhamentos, tais como: cuidados necessários no dia-a-dia do paciente, orientação sobre os remédios e sintomas comuns da doença. Os Grupos de apoio ou Associações também são ótimo recurso, pois também reforçam a importância dos familiares ou cuidadores cuidarem da sua própria saúde e bem-estar, permitem troca de dicas e informações, além de ajudarem a divulgar pesquisas e tecnologias disponíveis para enfrentar a doença.
Conteúdo Saúde: Quais os profissionais da saúde podem colaborar com o retardo da doença?
Dra. Flavia: O ideal é que os portadores da Doença de Alzheimer e seus familiares sejam acompanhados por uma equipe de saúde treinada nos cuidados de pacientes com demência. Com a finalidade de tratar o paciente de forma completa, vários profissionais devem trabalhar em conjunto, como por exemplo:
- Médico (em geral, geriatra ou neurologista): importante no diagnóstico precoce de Alzheimer e de suas possíveis complicações, além de orientar paciente e seu cuidador sobre tratamento e evolução da doença.
- Enfermagem: fundamental para aconselhamento sobre as necessidades do dia-a-dia, medicações, cuidados com pele/ feridas, hidratação etc.
- Nutricionistas: auxiliam pacientes com perda de peso ou falta de apetite, por exemplo.
- Fonoaudiólogos: úteis em casos onde há dificuldade de fala ou para engolir alimentos.
- Fisioterapeutas: podem melhorar situações de fraqueza muscular ou dificuldade para andar ou se movimentar.
- Psicólogos: ajudam pacientes e seus familiares a enfrentar situações de tristeza, desânimo, agressividade ou perda de auto-estima.
- Assistentes Sociais: fazem levantamento dos recursos do paciente e do seu núcleo familiar, sendo fundamentais para aconselhar sobre várias questões, como leis/ benefícios a que tem direito etc.
- Além disso, os pacientes com Doença de Alzheimer podem se beneficiar de várias técnicas disponíveis de treinamento de memória e de estimulação através de atividades de recreação, arte, exercícios físicos, dança, terapia ocupacional ou musicoterapia.
FLAVIA NAVI É GERIATRA E COLUNISTA CONVIDADA.
(CRM 52770213)