Tinker Bell é uma fada que nasceu com talento para o artesanato, para trabalhos manuais. Por isso, dentre as fadas, ela é uma fada artesã. A cada mudança de estação, as fadas saem da terra do nunca (onde habitam) e vão para o continente (terra dos humanos) transformar a natureza de acordo com a estação que está chegando. Porém, Tinker Bell descobre que as fadas artesãs não vão para o continente como as fadas da água, dos animais, das flores, da luz e fica muito triste. Mas ela não se conforma em não conhecer o continente e resolve por isso mudar de talento. Tenta aprender a ser uma fada da água, mas não tem talento para isto; tenta ser uma fada da luz,, e também não dá certo; tenta ser uma fada dos animais e percebe que não tem paciência para lidar com os mesmos; sua última tentativa é ser uma fada dos ventos, mas arruma tanta confusão que acaba destruindo todo o trabalho que as fadas tinham feito para começar a primavera. Ela pensa em desistir de tudo e ir embora da terra do nunca, mas, ao conversar com a fada que distribui o pozinho mágico, descobre que seu talento é muito importante para ajudar as outras fadas em seus trabalhos, a cada mudança de estação. Então, ela desiste de ir embora e, com o seu talento de artesã, ajuda as outras fadas a refazerem todo o trabalho que ela tinha destruído, trazendo a primavera de volta à “terra dos humanos”.
O adolescente, assim como Tinker Bell, nasce com seu talento, mas muitas vezes sente dificuldade em reconhecer o mesmo. Quando chega ao segundo grau é obrigado a escolher uma profissão, porém, muitas vezes, ele ainda quer experimentar outros talentos para somente depois confirmar o seu. Este é um momento em que tudo fica muito confuso e gera muita ansiedade, pois, além da escolha da profissão, o adolescente vivencia a perda dos amigos da escola, dos professores, de um mundo conhecido e familiar, e prepara-se para a entrada em um mundo novo (universidade), onde dará início à construção de um futuro profissional e pessoal.
Alguns até sabem qual é o seu talento, mas, como Tinker Bell, acham que o mesmo não é tão importante e valorizado quanto os outros talentos e tentam buscar algo que está na moda, que dá mais dinheiro, que é mais valorizado pelos amigos e familiares. Neste momento, é muito importante para o adolescente, assim como fez a nossa fada artesã, conversar com alguém sobre suas dúvidas, angústias, dificuldades diante da escolha. Este papel pode ser da família, de um amigo, mas, principalmente, de uma orientação vocacional que vai ajudá-lo no seu processo de autoconhecimento de suas características pessoais, suas competências, interesses e motivações. No espaço de uma orientação vocacional gestaltica, o adolescente irá conscientizar-se da história profissional familiar e das influências que recebe desta, além de construir um projeto profissional que leve em conta o seu projeto de vida. Terá, também, informações sobre as profissões e o mercado de trabalho. Desta forma, o jovem, assim como a Tinker Bell, conseguirá comprometer-se e responsabilizar-se pelo seu “talento”, sua profissão.
A entrada e saída em faculdades “sem sentido” gera no jovem sentimento de insegurança, decepção e ansiedade. Tinker Bell precisou seguir um caminho doloroso e desastrado, tentando ser uma fada que não era e frustrando-se a cada tentativa, até finalmente reconhecer e responsabilizar-se pelo seu verdadeiro talento. A orientação vocacional é um atalho para que essa escolha se faça de forma consciente e segura, sem que o adolescente tenha que se frustar por escolhas mal sucedidas e insatisfatórias, podendo assim ser um ser humano mais feliz e realizado.
CONCEIÇÃO MATOS É PSICÓLOGA E COLUNISTA CONVIDADA.
(CRP: 05/17953)