Pessoas ao redor do mundo sofrem com processos depressivos. Dentre elas, pessoas bem-sucedidas.
M. Cristina S. S. Bastos: A depressão quase sempre é desencadeada por uma falta que pode estar ligada a uma perda material ou afetiva, ou mesmo uma perda emocional, como, por exemplo, o respeito por si mesmo, por relações afetivas conflituosas, ou pela falta de relações afetivas. Vale dizer também que a neurociência vem investigando incessantemente o fato de que a depressão seria de origem genética, o que nos leva a outro olhar da depressão – o olhar médico - que não trata a abordagem psicanalítica.
Deixando de lado as considerações iniciais e delimitando este assunto a pessoas que profissionalmente e consequentemente, financeiramente sejam bem sucedidas pode-se pensar na possibilidade que todo o resto iria ou deveria ir bem, mas infelizmente não é isso que acontece. Pessoas com este perfil podem ter longos episódios de depressão, da mesma forma que outra não tão bem sucedida financeiramente.
Neste caso devemos olhar como a vida vai se delineando para essas pessoas. Em relação ao trabalho consegue-se um reconhecimento que vem em forma de benefícios cada vez maiores e mais atrativos e também por uma carga imensa de trabalho e compromissos que faz com que elas tenham cerca de doze a quinze horas de trabalho diário. O tempo com a família, com os amigos e até consigo mesmas é praticamente nulo. As relações afetivas passam a ser cada vez mais virtuais ou até mesmo inexistentes, e os finais de semana quase sempre são permeados por compromissos sociais a cumprir (não para que se goze apenas dele) mostrando que se tem qualidade de vida e, se for possível também, garantindo um network que fará diferença na hora de uma recolocação ou de um bom negócio. Neste universo fica impossível garantir uma saúde mental adequada, e a depressão acaba aparecendo quando se compila que as perdas pessoais são sempre muito maiores que os ganhos financeiros e sociais.
Em anos de experiência clínica venho presenciando que pessoas profissional e financeiramente mal sucedidas tem mais facilidade de reagir à depressão. O fato delas já terem privações naturais advindas da falta de recursos faz com que elas possuam estruturas emocionais mais fortes e reações mais rápidas de recuperação em relação às adversidades.
É muito importante questionarmos se o sucesso profissional e financeiro são bens maiores, se em contrapartida temos a depressão como consequência, impedindo que o sujeito usufrua das suas conquistas tão almejadas deixando o seu bem-estar emocional em segundo plano.
CRISTINA BASTOS PSICÓLOGA E COLUNISTA CONVIDADA.
(CRP/05:16799)
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