A Psicologia do Trabalho: estudos e intervenções para os tempos atuais
Publicado por: Evie Giannini em 23/12/2010
Categoria: Psicologia
“Estamos vivendo uma fase histórica em que as Globalizações parecem espraiar-se cada vez mais pelas sociedades modernas, tornando-se veiculadoras em larga escala de modelos de comportamento, de atitudes e escolhas”
Evie Giannini:Em suma, por meio da Psicologia do Trabalho pode-se analisar contextos laborais para neles perceber oportunidades de melhoria para que o trabalho seja mais saudável e as condições de trabalho sejam de fato humanizadas, tudo isso por meio de intervenções pensadas e elaboradas junto a colegas de profissão e outros estudiosos do tema “trabalho”, de modo sempre interdisciplinar
Estamos vivendo uma fase histórica em que as Globalizações parecem espraiar-se cada vez mais pelas sociedades modernas, tornando-se veiculadoras em larga escala de modelos de comportamento, de atitudes e escolhas. Entretanto, um sinal vermelho parece alertar: em tempos “Hipermodernos”, atualíssimos, a pretexto de acatar uma suposta “tendência mundial”, os trabalhadores estão sendo expostos a exigências sempre crescentes, hiperimpondo performances perfeccionistas em que a natureza e as limitações humanas não vêm sendo consideradas. Assim, não raro, temos percebido também em larga escala o aparecimento e instale de impactos psicofisiológicos e sociais sobre trabalhadores das mais diversas áreas, sejam formais ou informais. As organizações em geral (empresas/instituições), por sua vez, têm percebido este quadro alarmante, e algumas delas têm buscado alternativas para propiciar quadros laborais mais salutares, porém nem sempre sabem ou conseguem sozinhas operar ações pró-saúde a favor do trabalhador. Assim sendo, este é um momento oportuno para reflexões e debates nesse terreno delicado e urgente.
 
Uma das áreas de conhecimento que vem surgindo com certa força, demandando profissionais psicólogos para analisar contextos laborais, replanejar ações e intervir positivamente sobre cenários laborativos adoecedores é a Psicologia do Trabalho. Ainda que também atue em parcerias com empresas e instituições, a Psicologia do Trabalho centra-se no “sujeito que trabalha” objetivando oferecer uma abordagem reflexiva acerca da “dimensão trabalho” em sua amplitude sócio-histórica, ou seja, procurando elucidar que o “trabalho” que hoje conhecemos é uma produção social inaugurada, constituída e efetivada ao longo de contextos históricos. A importância deste tipo de abordagem confere bases para compreender que a ação de « trabalhar » – uma ação inequivocamente “viva” – é resultado de manifestações individuais e coletivas nada inertes, perpassadas por uma mobilização complexa de todo o aparato psicofisiológico humano; e mais, é ao mesmo tempo resultante e vetor de criação com significado, envolvimento e afecto por parte dos sujeitos envolvidos no trabalho como um todo. Daí que para a Psicologia do Trabalho o trabalhador é a figura central, entendendo-se que o trabalho deve ser adaptado ao ser humano, e não o ser humano ao trabalho. Compreendendo o trabalho dos sujeitos, seus sentidos e as condições laborais em que emergem, podemos transformar tais condições de trabalho levando-se em conta o ser humano que trabalha num sentido amplo e sistêmico, ou seja, considerando como elementos forçosamente interligados: o indivíduo laborativo, seus colegas e chefes, o local e as condições de seu trabalho, sua família, amigos e conhecidos, enfim, sua sociedade ao redor, onde o trabalho ganha sentido existencial. Desta forma, por meio da Psicologia do Trabalho pode-se analisar contextos laborais e neles perceber oportunidades de melhoria para que o trabalho seja mais saudável e as condições de trabalho sejam de fato humanizadas, tudo isso por meio de intervenções pensadas e elaboradas junto a psicólogos do trabalho e outros pesquisadores/profissionais afins ao tema “trabalho” de modo sempre interdisciplinar. Todavia, mesmo que a Psicologia do Trabalho atue junto a diversos experts de variadas áreas de conhecimento, o especialista do trabalho não é nenhum de nós estudiosos da temática “trabalho”. É o TRABALHADOR. É ele quem sabe como é seu trabalho, é ele quem dá sentido ao seu trabalho, é ele quem sente as premências das condições de seu trabalho e é ele, sobretudo, quem sabe onde o trabalho pode e deve ser transformado. Assim, o psicólogo do trabalho age de modo participativo e situado; noutras palavras, junto com o trabalhador e no local de trabalho deste trabalhador.
Para os interessados em atuar frente a esse tema tão inquietante nos dias de hoje, a formação em Psicologia do Trabalho se inicia na graduação em Psicologia, já que tal curso contempla a disciplina Psicologia do Trabalho, porém, o aprofundamento deste conhecimento demanda cursos de Especialização (formação Lato sensu) e/ou cursos de Titulação (formação Stricto sensu) através, por exemplo, da formação de Mestres e Doutores em Psicologia Social com ênfase em Psicologia do Trabalho. É válido lembrar que a Psicologia do Trabalho, por ser uma área nova, é pouco habitada, carecendo de profissionais psicólogos formados, interessados e atuantes.



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