O Transtorno de Estresse Pós-Traumático em crianças vítimas de abuso sexual
Por: Patrícia Werneck
O abuso sexual infantil se refere a todo ato ou jogo sexual, relação heterossexual ou homossexual, cujo agressor esteja em estágio de desenvolvimento psicossexual mais adiantado que a criança ou adolescente (Marques, 1994). Resultados de pesquisas indicam que o abuso sexual infantil é um fator de risco para o desenvolvimento de doenças psiquiátricas e estresse na vida adulta, sendo o Transtorno de Estresse Pós- Traumático (TEPT), apontado como o transtorno psicológico mais presente nas vítimas.
O TEPT é considerado um transtorno de ansiedade que ocorre quando o indivíduo apresenta alguns sintomas durante um período superior a um mês após o acontecimento de um evento traumático, que são: a revivescência persistente (pode ocorrer como se a situação estivesse acontecendo novamente ou em forma de pensamentos intrusos), a atitude de evitar lugares, pessoas, sentimentos ou situações que relembrem o trauma, respostas de sobressalto exageradas, hipervigilância, irritabilidade, insônia ou agitação freqüente, assim como o entorpecimento, onde o paciente tem uma redução do interesse em participar de atividades, a incapacidade de recordar elementos da situação traumática. Ele se sente distante das outras pessoas, tem afeto restrito e não possuem perspectiva para o futuro. Além de apresentar tais sintomas, o sofrimento deve ser significativo para a vida do indivíduo com prejuízo social, ocupacional, ou de qualquer outra área.
A terapia cognitivo-comportamental (TCC) é uma abordagem muito recomendada para o tratamento do TEPT, pois apresenta resultados positivos que são descritos em artigos e publicações de cunho científico. Além disso, a TCC apresenta como principal objetivo uma reestruturação de pensamentos a respeito da situação traumática, bem como uma reorganização e modificação das memórias relacionadas ao trauma.
Há alguns aspectos essenciais para a eficácia do tratamento do TEPT: a cessação da exposição ao evento traumático, visto que não há tratamento que dê certo se a vítima ainda é exposta, uma vez que pessoas que foram expostas a eventos traumáticos tendem a não querer falar sobre o fato, e um bom vínculo entre paciente e terapeuta também é essencial.
Especificamente em relação ao TEPT em crianças vítimas de abuso sexual, características como tipo de abuso (com e sem penetração), duração do abuso, idade de início do abuso, vínculo com o abusador, presença de ameaça e o contexto da revelação influenciariam o desenvolvimento do transtorno.
Em contrapartida, a presença de vínculo afetivo seguro com familiar/cuidador não abusador, apoio social, medidas de proteção e intervenções imediatas após a revelação do abuso atuam como fatores de proteção.
Em crianças, o tratamento do TEPT visa uma prevenção de futuros problemas emocionais, comportamentais, sociais e cognitivos, como: sentimentos de culpa, dificuldade de confiar no outro, comportamento hipersexualizado, medos, pesadelos, isolamento, sentimentos de desamparo e ódio, fugas de casa, baixa auto-estima, sintomas somáticos e agressividade, abuso de substâncias, promiscuidade ou depressão.
A infância é uma fase delicada do desenvolvimento humano que se mostra dependente de cuidados e proteção por parte, não só dos pais e responsáveis, como de toda a sociedade. Nesse contexto, os profissionais da saúde, especialmente os psicólogos, podem contribuir não apenas no tratamento, como na detecção de características emocionais e comportamentais que possam indicar a ocorrência do abuso e de eventos traumáticos.
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Comentários
(2)
Olá Patricia! Por favor, se possível tire minha dúvida o transtorno de ansiedade ocorrido após atos de violencia como o ocorrido na escola em Realengo, pode ser uma TEPT, ou precisamos levar outras considerações???
Oi, Patricia! Quando deparamos com crianças com algumas caracteristicas mencionadas acima como sintomas de transtornos por abusos sexuais, gostaria de saber se há alguma forma de abordá-la sem causar algum tipo de fobia na mesma ou melhor é procurar logo um profissional da área para descobrir o que há? No aguardo, obrigado. João Carlos.